8 de setembro de 2012

Bairro da Quinta da Calçada 1938-1992

Aqui onde estão as árvores (da esquerda até à direita), eram mais ou menos os limites do 
Bairro da Quinta da Calçada, entre 1938 e 1992. Actualmente essa zona é um campo de golf. 
Foto de rtdias, 2008 encontrada na Net


O Bairro da Quinta da Calçada no princípio 

Vista aérea do Bairro da Quinta da Calçada por volta de 1940. 
Foto copiada de publicação da CML. 


«ATRAÍDAS pela indústria que florescia na cidade de Lisboa, muitas famílias do interior do país deixavam na década de 30 e 40 as suas casas e vinham para a capital. Aqui chegados, deparavam-se com uma realidade diferente da que haviam sonhado e as condições em que viviam eram muitas vezes precárias. Para colmatar esta situação, durante o Estado Novo, foram criadas habitações provisórias em bairros pré-fabricados, com casas de pequena dimensão que, com o decorrer do tempo e o aumento do agregado familiar, se foram degradando.

Vista geral do Bairro da Quinta da Calçada por volta de 1940. 
Foto copiada de publicação da CML. 


A ideia subjacente era melhorar as condições sociais e económicas das famílias de bairros de lata e estancar a expansão de barracas em redor da cidade, promovida pelo êxodo das populações do interior para as grandes cidades. Com a implantação destas medidas, nascia em 1938, na cidade de Lisboa, o primeiro bairro provisório do Estado Novo, o bairro da Quinta da Calçada que viria a durar até 1997. A história da sua implantação, constituição e desagregação está presente na memória de quem aí habitou e para preservar essa história e a de outros bairros que foram posteriormente construídos, a Câmara Municipal de Lisboa editou o álbum Lisboa o Outro Bairro - Os Provisórios do Estado Novo. Nesta recolha de história explica-se aos vindouros como era a Lisboa de outras décadas.

Vista aérea da zona do Bairro da Quinta da Calçada até ao rio Tejo por 
volta de 1940, com alguns locais assinalados. Foto encontrada na net. 


O bairro da Quinta da Calçada foi criado para cerca de 500 famílias, situava-se no Campo Grande, junto à Azinhaga das Galhardas, e era feito de habitações pré-fabricadas em lusalite, divididas em células de três, quatro e cinco dependências. A intenção era albergar a população que ocupava os bairros das Minhocas e da Bélgica, dois bairros de lata da década de trinta. Esta medida fazia parte de uma experiência de realojamento promovida pelo Estado português da altura e da edilidade alfacinha, com o intuito de agregar em habitações condignas famílias de zonas degradadas. As casas, que eram previamente mobiladas de forma estereotipada e com mobiliário simples, encontravam-se distribuídas paralelamente em relação aos arruamentos, dispunham de um pequeno terreno em frente à casa e o preço médio das rendas rondava os 30 e os 50 escudos mensais. O bairro tinha ainda infra-estruturas várias, que iam desde os edifícios escolares até ao lavadouro público, passando por escolas e uma igreja. Mas, para o bom convívio entre moradores e para a preservação das instalações, existia um regulamento interno que condicionava a vida dos moradores. Mesmo assim, quem lá morou relembra a camaradagem e os laços de amizade que se estabeleciam com a vizinhança.»
(Maribela Freitas, In Expresso 12-02-2000)



Inicio da Construção do Bairro 
da Quinta da Calçada, 1937/38 

  Fase da marcação do terreno. 1938.  Eduardo Portugal.


 Fase da construção do "esqueleto" (vendo-se bem a fábrica do tijolo)
da 1ª fase do Bairro da Quinta da Calçada. 1938. Eduardo Portugal.

Fase da construção do "esqueleto" da 1ª fase do Bairro da Quinta da Calçada, que foi 
"destruida" anos mais tarde para doarem terrenos para o CDUL. 1938.  Eduardo Portugal.

Técnicos da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fases da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto encontrada em digitarq.adlsb.dgarq.gov.pt

Fase da construção do Bairro da Quinta da Calçada entre 1937/39.  Eduardo Portugal.
Foto copiada de publicação da CML. 

Fotos da Inauguração do Bairro 

da Quinta da Calçada, 1939


Na 1ª foto: o Presidente da República, António Carmona. Na 2ª foto: O Eng. 
Duarte Pacheco falando com o Cardeal Cerejeira, tudo diante da igreja. 1939.

O padre é o Cardeal Cerejeira, o de fato escuro é o presidente Carmona, repare-se na saudação nazi dos jovens da mocidade portuguesa. na 2ª foto o cardeal está em frente à igreja com o padre local? 1939.

Lanche distribuído ás crianças na inauguração do Bairro. 1939.



A inauguração do Bairro da Quinta da 

Calçada foi em 05 de Fevereiro de 1939


Andei meses a tentar saber qual a data da inauguração do Bairro da Quinta da Calçada, porque se havia fotos tinha de haver um dia da inauguração, e no sábado depois de várias horas a consultar documentos antigos, lá consegui saber um bocado ao acaso. A data foi dia 05 de Fevereiro de 1939. Agora só falta saber a data certa em que acabou para ficarmos a saber quanto tempo durou o bairro onde muitos de nós nascemos e crescemos, para o bem e para o mal. Pelas minhas contas o nosso bairro teve quase 60 anos, já que acabou nos anos 90 mas não sei em que ano (1992?). Para lerem, ou verem as imagens maiores cliquem sobre a imagem.


Salazar e o Eng. Duarte Pacheco à conversa no Bairro da 
Quinta da Calçada em 05 de Fevereiro de 1939, um domingo.

Foto copiada de publicação da CML. 


Estava a consultar o documento da esquerda no domingo passado, que se chama: Anais do Município de Lisboa 1938-1964, onde retirei esta parte de um relatório de 1939 mas, referente ao ano de 1938, do presidente da câmara da altura que se refere ao Bairro das Minhocas e à Quinta da Calçada, onde se pode constatar que as primeiras casas foram feitas em 1938. Depois resolvi continuar á procura e já no fim do documentos encontro umas páginas chamadas efemérides, onde a certa altura encontro uma referencia á inauguração da Quinta da Calçada com o dia e uma breve discrição, (imagem da direita). Ora sabendo a data podemos ir à procura de noticias em jornais antigos, foi o que fiz, alguns consultei na net e encontrei a noticia do Diário de Lisboa, mas lembrei-me de consultar um serviço da câmara, chamado Hemeroteca e que tem jornais antigos que podemos consultar e comprar as partes que nos interessam. Pedi à Hemeroteca para procurar todas as noticias referentes à inauguração e responderam que tinham um monte de noticias, comprei todas (ficou-me por 17 euros, que se lixe, antes aí que na farmácia), nem tive que lá ir, tratei tudo por mail. Aí estão as noticias que saíram nos jornais da época.



Noticias no dia seguinte à inauguração do Bairro, em dois dos jornais 
mais importantes da época, O Século e o Diário de Noticias. Clique.
Noticias nos jornais, Diário da Manhã e A Voz, ambos já desaparecidos. Clique.

Noticia no Jornal de Noticias do Porto e no Diário de Lisboa. Clique.



Dois dias depois mais noticias sobre 
o Bairro da Quinta da Calçada .

Dois dias depois da inauguração da Quinta da Calçada, o Eng. Duarte Pacheco voltou ao bairro para cumprimentar os técnicos e os empreiteiros e ver como iam os trabalhos. O homem não parava quieto, vivia para o trabalho e trabalhava a 100 á hora. Dizem que era costume ele trabalhar 16 horas por dia.


Noticias nos jornais, O Século e A Voz.

Noticias nos jornais, Diário de Noticias e Diário da Manhã.

Visitas nos anos seguintes do Eng. Duarte Pacheco e do presidente da Câmara 
Municipal de Lisboa ao Bairro da Quinta da Calçada. 1940/44.  Eduardo Portugal.

 Visitas nos anos seguintes do Eng. Duarte Pacheco e do presidente da Câmara 
Municipal de Lisboa ao Bairro da Quinta da Calçada. 1940/44.  Eduardo Portugal.  

Visitas nos anos seguintes do Eng. Duarte Pacheco e do presidente da Câmara 
Municipal de Lisboa ao Bairro da Quinta da Calçada. 1940/44.  Eduardo Portugal.  

Mapa das obras de Duarte Pacheco em Lisboa nos anos 30 e 40, o nº 29 é a Quinta da Calçada. 



Algumas informações sobre o Eng. Duarte Pacheco


«Duarte Pacheco, nascido em Loulé no virar do século (1899), veio para Lisboa aos dezassete anos atraído pela fama do ensino da Matemática de uma jovem Escola. Formado pelo IST em 1923, quatro anos depois, em 1927, o Conselho Escolar determinava por unanimidade a sua nomeação como Director do Instituto Superior Técnico. Duarte Pacheco operou uma transformação profunda do País. Durante os anos que presidiu ao Ministério das Obras Públicas e Comunicações e à Câmara Municipal de Lisboa, planificou e executou as obras que trouxeram Lisboa e Portugal para o século XX. A obra de Duarte Pacheco foi possível num espaço tão curto de tempo devido à sua capacidade de trabalho, ao rigor e ao método que imprimiu ao seu trabalho e ao funcionamento do Ministério e dos organismos que criou e controlou. Dotado de um carácter inabalável, imbuído da ética republicana que regeu toda a sua carreira política, com uma vontade forte e uma ousadia visionária, Duarte Pacheco revolucionou Portugal nas mais diversas vertentes, obras públicas, transportes, comunicações, solidariedade social, ensino e cultura. Se a contemporização do ministro com o regime é polémica, a sua capacidade de fazer e fazer bem nunca estiveram em dúvida.»
(In, 100.ist.utl.pt/momentos/duarte-pacheco/)

O estado em que ficou a viatura do Eng. Duarte Pacheco. 
Foto encontrada na net. 

«Duarte José Pacheco era um homem do regime salazarista, mas era também uma espécie de super ministro com uma energia sem fim. Desde a mata de Monsanto, à auto estrada Lisboa-Porto, aos bairros sociais e um sem número de outras obras, deixou marcas para a posteridade que muitos hoje ainda utilizam. Numa manhã de Novembro de 1943, perto de Vendas Novas, a caminho de uma reunião do Conselho de Ministros, o carro onde seguia despista-se e embate num sobreiro. Os cintos de segurança não tinham sido ainda inventados. Não escapou e deixa este mundo aos 43 anos.»
(texto e foto em, socialissimo.blogspot.com)


Bairro da Quinta da Calçada 1940
(ainda a cheirar a tinta)

Rua que ia da azinhaga até ao mercado, a casa grande era o posto do fiscal. Creio que nesta altura também era a a sede da Mocidade Portuguesa, depois foi sede do Unidos Futebol Clube (que foi fundado no Bairro da Quinta da Calçada) mais tarde sede da Comissão de Moradores, da Cooperativa e do Grupo Cultural. 1939. Eduardo Portugal.

Alameda ou rua da igreja, devia ter um nome mas não sei qual era. 1939. Eduardo Portugal. 

Interior do dispensário com várias mobílias que o equipavam. A foto é do dispensário do Bairro 
da Boavista mas, seria igual de certeza no Bairro da Quinta da Calçada.  1939. Eduardo Portugal. 


Viveiros que havia na zona entre o Bairro Jardim de Telheiras e a Quinta da Calçada, 
e que foram "destruídos" para se construir a segunda circular. 1939. Eduardo Portugal. 

Viveiros que havia na zona entre o Bairro Jardim de Telheiras e a Quinta da Calçada, 
e que foram "destruídos" para se construir a segunda circular. 1939. Eduardo Portugal. 

Viveiros que havia na zona entre o Bairro Jardim de Telheiras e a Quinta da Calçada, 
e que foram "destruídos" para se construir a segunda circular. 1939. Eduardo Portugal. 

Mapa com a zona dos viveiros.

Esta zona era a que entrava no estádio universitário e que foi destruída para construírem 
a pista do CDUL, não tenho qualquer memória dela. 1939. Eduardo Portugal. 

A minha irmã Emília quando casou foi morar para uma dessas casas onde está um homem num 
escadote, já não me lembro qual. Foto tirada de dentro do posto do fiscal. 1939. Eduardo Portugal. 

Tanques de lavar roupa que foram destruídos para construírem a pista de atletismo e muita desta gente foi para o bairro Padre Cruz. Na foto dizia: O lavadouro e o estendal evitava que à roda das casas haja paus e cordas. 1939. Eduardo Portugal.

Rua do bairro azul junto à azinhaga. 1939. Eduardo Portugal.

Rua larga ou rua direita que atravessava quase todo o bairro. 1939. Eduardo Portugal.


Ao centro o posto da policia, à esquerda vê-se parte da escola onde está a vegetação; a zona que 
ficava à direita foi destruída para construírem a pista de atletismo do CDUL. 1939. Eduardo Portugal.

Infantário e Dispensário. 1939. Eduardo Portugal.

 Infantário e Dispensário. 1939. Eduardo Portugal.

Igreja. 1939. Eduardo Portugal.

Interior da Igreja. 1939. Eduardo Portugal.

Mercado ou como nós dizíamos: a Praça. 1939. Eduardo Portugal.

Casas na alameda ou rua da igreja, devia ter um nome mas não sei qual era. 1939. Eduardo Portugal.

O bairro encarnado visto de detrás do mercado. 1939. Eduardo Portugal. 


Os Bairros de Lusalite


Em Lisboa foram construídos três bairros deste tipo na década de 30: Quinta da Calçada, Furnas e Boavista. Utilizaram um novo sistema de construção: placas de fibrocimento, menos dispendioso e de construção mais rápida; o objectivo era substituir em pouco tempo as barracas por fogos com um mínimo de condições. 
Carlos Nunes Silva - Mercado e políticas públicas em Portugal: 
a questão da habitação na primeira metade do século xx


Bairro da Quinta da Calçada, visto de Telheiras.  1940. Eduardo Portugal.. 


Bairro da Boavista, vista geral. 1940. Domingos Alvão.

Bairro das Furnas, Rua das Nogueiras. 1961. Artur Goulart. 

Bairro Padre Cruz, Rua do Rio Alviela. 1962. Artur Inácio Bastos.


Mapas da Zona da Quinta da Calçada

Mapa topográfico da zona da Quinta da Calçada em 1908

Mapa topográfico da zona da Quinta da Calçada antes de 1908. 


Revista Municipal de 1940


Propaganda da CML da altura, encontrada na revista municipal de 1940. 

Propaganda da CML da altura, encontrada na revista municipal de 1940. 

Propaganda da CML da altura, encontrada na revista municipal de 1940. 



(Fotos, mapas e revistas dos Arquivos Municipais de Lisboa da CML, excepto as assinaladas)


8 comentários:

  1. Muito bom!E ainda dizem q não haviam políticas sociais e cuidados d saúde pública no tempo de Salazar!Basta ver isto.

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    1. Isto eram casas de madeira. Ao fim de alguns anos eram autênticas barracas a se degradarem. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/bairro-da-quinta-da-calcada-em-lisboa/

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu nascido em 1955 no Hospital S.Maria do qual meu pai trabalhou na sua construção,e morador do bairro ainda muito jovem em casa de uma irmã na rua dos Goivos, rua antes da rua larga para quem entrava no bairro em direção á igreja.Meus acabaram por arranjar casa no bairro em 1960 na rua Madre silva rua da escola primaria masculina a rua central,e onde acabei por andar ate 1966 altura em que sai para mudar de bairro,bairro do Relógio junto ao aeroporto mas nunca esquecendo o bairro onde vivi tive e tive uma infância feliz.Não esquecendo os filmes que se viam na praça e quando eu e outros meus amigos e colegas da escola íamos aos sábados a tarde buscar cadernos e lápis a uma quinta ficava a traz da lagoa do Lino casa essa que ainda a vi a poucos anos em pé e espero que assim se mantenha quantos a amigos de infância perdi o rasto recordo-me do peixeiro que vendia na rua central e que tinha uma carrinha Redford no final do dia os putos incluindo eu pedíamos para nos dar uma boleia ate ao principio da azinhaga de palma e voltava-mos a pé todos contentes. ps peço desculpa pela falta de pontuação.

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  4. Muito sofrimento e fome quem murou nas barracas da Quinta da calçada nunca vou esquecer e a camera de Lisboa nunca ajudou ninguém

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    1. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/bairro-da-quinta-da-calcada-em-lisboa/

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  5. Fico com os olhos a brilhar infelizmente não tenho recordações do tal bairro da quinta calçada apesar de morar lá e sair apena com 3 anos de idade, hoje com 30 anos a única relíquia que tenho são as histórias do pessoal da velha guarda que conta as histórias com as lágrimas nos olhos, o famoso latario que hoje está de pé. Vim da família dos camarões pena não ter vivido nesse tempo.

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    1. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/bairro-da-quinta-da-calcada-em-lisboa/

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